Versión castellana
Moritz Daniel Oppenheim Retrato de Charlotte de Rothschild, 1836 |
A noção de modernidade na arte judaica está ligada à profunda transformação nas comunidades judaicas europeias conhecida como Hascalá, o Iluminismo judaico. Em hebraico, o termo hascalá significa “educação”. A Hascalá foi um movimento sociocultural que se desenvolveu nessas comunidades em fins do século 18 e durante todo o século 19. A Hascalá promoveu os valores emanados do Século das Luzes, procurando integrar os judeus nas sociedades modernas. Incentivou uma educação baseada no hebraico e na História Judaica, mas também estimulou os diferentes conhecimentos seculares, inclusive o estudo de outros idiomas. Neste sentido, a Hascalá se distanciou da tradicional escola de estudos religiosos mosaicos (ieshivá) e promoveu a integração do povo judeu dentro de contextos seculares, dando lugar assim ao primeiro movimento político judaico e a uma verdadeira emancipação na esfera sociocultural.
Caídos os muros dos guetos após a Revolução Francesa, a questão da identidade passou a ser tema de amplo debate dentro das comunidades judaicas. Como registro da experiência humana, as artes visuais proporcionam um valioso testemunho do dilema do passado entre as vantagens oferecidas pela integração e os riscos próprios da assimilação, que envolvia a gradual deterioração ou mesmo a perda das tradições ancestrais. Significativamente, longe de ser um tópico fossilizado, este dilema persiste ainda hoje e se reflete nas artes plásticas.
Antes da Emancipação de 1806 ocorrida na Europa a partir das conquistas napoleônicas e da implementação dos Direitos do Homem herdados da Revolução Francesa, era difícil encontrar artistas judeus seculares no Velho Continente. Entre as raríssimas exceções destaca-se Solomon Adler, que conseguiu trabalhar com sucesso como retratista em Milão, no século 17.
Foi a partir do século 19 que teve lugar na Europa um cauteloso, porém paulatino, avanço da arte judaica. Os artistas judeus se dedicaram à pintura e à escultura, expressando-se em diversas linguagens estilísticas da arte europeia. Participaram e ofereceram a sua própria contribuição a correntes artísticas como o Academicismo, o Romantismo, o Realismo, o Impressionismo e praticamente todas as tendências da arte de vanguarda.
Um dos primeiros artistas judeus de renome foi Moritz Daniel Oppenheim, que desenvolveu temas tradicionais e cenas costumbristas em obras como Shabat, Pessach, Sucot, Purim e Shavuot. Suas litografias foram incluídas em Cenas da vida da família judaica tradicional, de 1866, um sucesso várias vezes republicado. Também costumbrista é o estilo de O regresso do voluntário judeu das Guerras de Libertação à sua família que ainda vive segundo a tradição ancestral (1833-34), obra na qual Oppenheim retrata o reencontro do presente com o passado. É neste quadro, particularmente, que o artista registra a nova condição judaica e as dificuldades que ela envolve. Procurando integrar-se na sociedade maior, o protagonista judeu de sua obra tentou transpor os muros do velho gueto e se alistou como voluntário no exército alemão: o uniforme que está vestindo evidencia a sua recente participação nas Guerras de Libertação. Enquanto a cena caseira de Oppenheim inclui numerosos artigos judaicos, o voluntário judeu, por seu lado, foi distinguido por seu valor na batalha e, por conseguinte, ostenta a Cruz de Ferro, que é observada por seu pai, não sem apreensão. Sem dúvida, estes são os tempos modernos, e é precisamente quando a tradição se depara com a modernidade.
Coluna Arte e Identidade 2. Tempos Modernos
Boletim ASA 159, Março/Abril de 2016
Ano 28, Arte e Identidade 26 de Fevereiro de 2016
PASSEPARTOUT. Artista plástico, arquiteto e historiador da Arte. Pesquisador sul-americano especializado em comunicação visual. Conferencista independente com 12 prêmios internacionais em Arte e Educação.
Caídos os muros dos guetos após a Revolução Francesa, a questão da identidade passou a ser tema de amplo debate dentro das comunidades judaicas. Como registro da experiência humana, as artes visuais proporcionam um valioso testemunho do dilema do passado entre as vantagens oferecidas pela integração e os riscos próprios da assimilação, que envolvia a gradual deterioração ou mesmo a perda das tradições ancestrais. Significativamente, longe de ser um tópico fossilizado, este dilema persiste ainda hoje e se reflete nas artes plásticas.
Antes da Emancipação de 1806 ocorrida na Europa a partir das conquistas napoleônicas e da implementação dos Direitos do Homem herdados da Revolução Francesa, era difícil encontrar artistas judeus seculares no Velho Continente. Entre as raríssimas exceções destaca-se Solomon Adler, que conseguiu trabalhar com sucesso como retratista em Milão, no século 17.
Adler, Autorretrato, c. 1680 |
Foi a partir do século 19 que teve lugar na Europa um cauteloso, porém paulatino, avanço da arte judaica. Os artistas judeus se dedicaram à pintura e à escultura, expressando-se em diversas linguagens estilísticas da arte europeia. Participaram e ofereceram a sua própria contribuição a correntes artísticas como o Academicismo, o Romantismo, o Realismo, o Impressionismo e praticamente todas as tendências da arte de vanguarda.
Um dos primeiros artistas judeus de renome foi Moritz Daniel Oppenheim, que desenvolveu temas tradicionais e cenas costumbristas em obras como Shabat, Pessach, Sucot, Purim e Shavuot. Suas litografias foram incluídas em Cenas da vida da família judaica tradicional, de 1866, um sucesso várias vezes republicado. Também costumbrista é o estilo de O regresso do voluntário judeu das Guerras de Libertação à sua família que ainda vive segundo a tradição ancestral (1833-34), obra na qual Oppenheim retrata o reencontro do presente com o passado. É neste quadro, particularmente, que o artista registra a nova condição judaica e as dificuldades que ela envolve. Procurando integrar-se na sociedade maior, o protagonista judeu de sua obra tentou transpor os muros do velho gueto e se alistou como voluntário no exército alemão: o uniforme que está vestindo evidencia a sua recente participação nas Guerras de Libertação. Enquanto a cena caseira de Oppenheim inclui numerosos artigos judaicos, o voluntário judeu, por seu lado, foi distinguido por seu valor na batalha e, por conseguinte, ostenta a Cruz de Ferro, que é observada por seu pai, não sem apreensão. Sem dúvida, estes são os tempos modernos, e é precisamente quando a tradição se depara com a modernidade.
Oppenheim, O regresso do voluntário judeu, 1833-34 |
Coluna Arte e Identidade 2. Tempos Modernos
Boletim ASA 159, Março/Abril de 2016
Ano 28, Arte e Identidade 26 de Fevereiro de 2016
PASSEPARTOUT. Artista plástico, arquiteto e historiador da Arte. Pesquisador sul-americano especializado em comunicação visual. Conferencista independente com 12 prêmios internacionais em Arte e Educação.
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1. Arte e Raízes
2. Tempos Modernos
3. Arte e Emancipação
A. Arte y Raíces
B. Experiencia judía y arte moderno
C. Expresiones hebreas de vanguardia